Como as emoções afetam as finanças e os investimentos?
As decisões de investimento têm grande impacto na vida das pessoas. Erros e acertos podem ser a diferença entre momentos de dificuldades ou a tão sonhada liberdade financeira. Com toda essa pressão, é natural que as emoções sejam um fator importante nesse processo.
Poucas pessoas sabem que os sentimentos influenciam o comportamento dos investidores de muitas outras formas, sutis e imperceptíveis, afetando negativamente o patrimônio pessoal. Curiosamente, esses comportamentos contradizem conceitos fundamentais da teoria financeira tradicional, como a aversão ao risco e a maximização da utilidade pelo investidor.
Foi a partir dessa observação que surgiu um novo ramo da economia: as finanças comportamentais. Baseada principalmente na psicologia, essa ciência busca entender e explicar o comportamento dos investidores que, por vezes, agem de maneira irracional ou contrária à lógica econômica.
Conceitos como racionalidade dos participantes, tomada de decisão embasada na análise de todas as informações disponíveis e mercados eficientes são descartados em favor da observação prática. O objetivo é entender como o comportamento e as predisposições afetam as decisões financeiras das pessoas, impactando não só suas vidas, mas também o mercado e a sociedade.
Essas predisposições comportamentais são classificadas em dois grupos: falhas cognitivas e vieses emocionais.
As falhas cognitivas envolvem a análise e a compreensão de informações e dados estatísticos, além de problemas relacionados à memória. São resultados diretos da racionalização equivocada.
Dentre as tendências desse grupo, estão aquelas decorrentes dos conflitos causados pela contradição entre as crenças da pessoa e as novas informações que surgem, como o conservadorismo, a confirmação, a representatividade, a ilusão de controle e a retrospectiva. Há também as tendências causadas por equívocos no processamento de informações, como a ancoragem, as contas mentais, o enquadramento e a disponibilidade.
Já os vieses emocionais decorrem, principalmente, do impulso e do uso da intuição. Nesse caso, o raciocínio é influenciado pelos sentimentos que acabam levando a decisões equivocadas. Percepções, crenças e experiências de vida têm um papel importante no modo como os indivíduos percebem e reagem a diferentes situações. Muitas dessas reações ocorrem de forma automática e indesejada.
No total, há seis vieses com raiz emocional: a aversão ao risco, o excesso de confiança, o autocontrole, o status quo, a posse ou dotação, além da aversão ao arrependimento. Todos afetam a percepção de risco e interferem na seleção dos investimentos e nos resultados obtidos.
Os erros decorrentes de falhas cognitivas podem ser corrigidos mais facilmente que aqueles provenientes das emoções. Isso acontece porque o ser humano consegue adaptar e corrigir o comportamento cuja origem pode ser identificada conscientemente, ainda que não seja totalmente compreendida.
Através da educação, da busca por informações de fontes confiáveis e da orientação profissional qualificada, é possível reduzir o impacto dos erros decorrentes das limitações cognitivas. Já os equívocos provocados pelas emoções são mais difíceis de mitigar. O melhor caminho é aprender a reconhecê-los e limitar seus efeitos antes de agir.
Uma boa maneira de evitar que as emoções afetem negativamente as decisões financeiras é contar com um plano de investimento bem definido, com objetivos claros e realistas. Adicionalmente, é preciso manter uma disciplina rigorosa na execução desse plano, reduzindo os riscos que cada comportamento adiciona ao processo de tomada de decisão.
Buscar se informar sobre os aspectos técnicos e fundamentais do mercado e do ativo escolhido também é essencial. Decisões fundamentadas em fatos e análises costumam ter melhor resultado que aquelas baseadas em achismos, dicas imperdíveis e recomendações de investimento genéricas, não são aplicáveis a todas as pessoas, especialmente no mercado de renda variável. Essas “dicas” geralmente envolvem fatores, circunstâncias e uma janela de tempo que, se não forem observados, podem levar a perdas financeiras. Há ainda o risco de ser manipulado por agentes de mercado com interesses distintos ou se tornar mais um no efeito manada.
Compreender como as pessoas se comportam em relação ao dinheiro e às finanças pessoais possibilita a adoção de medidas para reduzir os efeitos emocionais nocivos, tornando as decisões mais racionais e benéficas para si mesmas e para a coletividade.